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Todo ronco é igual: mito ou verdade?

Roncar, na maior parte dos casos, é uma queixa do parceiro ou parceira de cama, o que traz embutida a subjetividade do limiar de tolerância individual ao barulho ou mesmo confundido com sons da respiração. | postado em 03/01/2021

O ronco, para os profissionais da área do sono, é tão frequente quanto desafiador.

Estima-se que esteja presente em cerca de 50% da população de meia idade, mas com grandes variações na literatura, inclusive quanto sua relação com o gênero.

Para complicar ainda mais esse cenário, roncar, na maior parte dos casos, é uma queixa do parceiro ou parceira de cama, o que traz embutida a subjetividade do limiar de tolerância individual ao barulho ou mesmo confundido com sons da respiração. Ou seja, para muitos, o ronco está no ouvido de quem o ouve. É indiscutível que é um MITO afirmar que todo ronco é igual.

Em primeiro lugar, a sua ocorrência pode ser transitória quando sua causa se deve à rinite ou infecções agudas das vias aéreas superiores, por exemplo. Quando regular, o ronco pode ser contínuo ou intermitente, com intensidade de som variável no decorrer da noite com interferência direta de fatores, como a posição, alterações anatômicas, obesidade, entre outros.

Classificar melhor esse sinal sonoro de obstrução da via aérea tem sido alvo de várias pesquisas no mundo todo.

Seria o ronco mais um fator a se considerar para determinar a gravidade da apneia obstrutiva do sono (AOS)?

Sem dúvida, sim! É de longe a motivação mais frequente para a busca de avaliação nos consultórios de Medicina do Sono. Para o roncador, é uma tarefa quase impossível caracterizar melhor o fenômeno. Depende-se quase que exclusivamente do relato de outra pessoa.

Outro problema enfrentado é exatamente na avaliação diagnóstica do ronco. Os métodos hoje empregados carecem de maior acurácia e objetividade.

Em geral, ainda não estão acessíveis aos laboratórios do sono ferramentas que o registrem com maior precisão, embora muitas novidades tecnológicas validadas tenham sido lançadas. Além disso, necessita-se de métodos mais baratos, seguros e simplificados para monitorização domiciliar e frequente do roncador.

Filtrar situações como sons expiratórios, tosse ou até mesmo ruídos do ambiente continua sendo um desafio para os cientistas. Pesquisadores têm buscado um valor de amplitude sonora para diferenciar essas situações, com resultados promissores já publicados.

Sabe-se hoje que as características de som do ronco já são capazes de sugerir o sítio de obstrução por meio de uma análise acústica apurada. Apesar da sua importância, o ronco isoladamente não é suficiente para predizer o grau da AOS.

Quando intenso ou do tipo ressuscitativo, associado a pausas respiratórias presenciadas, há maior chance dessa associação estar presente.

É fundamental avaliá-lo sob uma óptica clínica, considerando outros sinais e sintomas. Mas é inegável que todo ronco regular necessite de avaliação profissional. Não há mais espaço para aceitar que ele é um evento inocente sem grandes repercussões.

A literatura científica já o relaciona ao aumento do risco de doenças metabólicas e cardiovasculares. Além do mais, é um importante promotor de fragmentação do sono para quem convive com o roncador. Por ser tão plural em sua etiologia e com apresentações diversas, o ronco ainda tem muito a se conhecer. Enquanto muitas pessoas pensarem que se trata de um fenômeno natural e evolutivo da vida, mais difícil será o diagnóstico e tardio o tratamento.

E um passo fundamental para mudar esse cenário é reconhecer que o ronco não é igual em todos os casos e continuar investindo em ferramentas que proporcionem maior objetividade em sua análise.

Continuemos lutando por noites de sono mais tranquilas e saudáveis!

Fonte: Dr. George do Lago Pinheiro é médico otorrinolaringologista, com atuação na área da Medicina do Sono.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

Alakuijala A, Salmi T. Predicting Obstructive Sleep Apnea with Periodic Snoring Sound Recorded at Home. J Clin Sleep Med. 2016;12(7):953-958. Published 2016 Jul 15. doi:10.5664/jcsm.5922

Levartovsky A, Dafna E, Zigel Y, Tarasiuk A. Breathing and Snoring Sound Characteristics during Sleep in Adults. J Clin Sleep Med. 2016;12(3):375-384. doi:10.5664/jcsm.5588 Stuck BA, Hofauer B. The Diagnosis and Treatment of Snoring in Adults. Dtsch Arztebl Int. 2019;116(48):817-824. doi:10.3238/ arztebl.2019.0817

Revista Sono - Sociedade Brasileira do Sono

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